RITUAIS

Vitrine de Loja de Novas, Ipatinga, Minas Gerais
     Os personagens são essenciais para a composição de uma cena, eles são os grandes responsáveis pelas mudanças que ocorrem na cidade, neste caso, são eles que idealizam uma vida perfeita. “Como vivemos em sociedade, tudo o que fazemos tem um elemento comunicativo implícito. Ao nos vestirmos de uma determinada forma, ao assumirmos determinadas maneiras à mesa, ao escolhermos determinados lugares para frequentar, estamos comunicando preferencias, status, opções” diz a doutora em antropologia Mariza Peirano (2003).
     Um conto de fadas na vida real, ou saudades de brincar de bonecas? Véu, grinalda e branco, todos com seus significados. Nas vitrines, os manequins compõem uma família perfeita. O primeiro, trajando um longo e espalhafatoso vestido branco, ao lado o segundo, vestindo um smoking, e finalmente o terceiro, o manequim infantil, uma miniatura do primeiro, sinalizando que daqui a alguns anos estará em seu lugar. A Barbie, o Ken e sua filhinha que, se escondeu durante todos estes anos, em seu ventre de plástico.
     A festa de casamento, um ritual bastante antigo, compõe um cenário de felicidade e confraternização, que ficará eternizado para sempre em um álbum de fotografias.

Consideramos o ritual um fenômeno especial da sociedade, que nos aponta e revela representações e valores de uma sociedade, mas o ritual expande, ilumina e ressalta o que já é comum a um determinado grupo […] Rituais são bons para transmitir valores e conhecimentos e também próprios para resolver conflitos e reproduzir as relações sociais. (PEIRANO, 2003, p.10)

      O casamento, deve ser o um dia inesquecível, diz a cultura. Rendas, tule, cetim e miçangas, a noiva se veste de uma forma, que nunca será vista em outro lugar, e quem sabe a única vez.
Afinidades Eletivas, Rosângela Rennó, 1990 
     Na história, a grinalda era usada fazendo com que a noiva se pareça com uma rainha, diferenciando-a dos convidados, quanto maior era a grinalda, maior era o status. Para o vestido, a cor branca passou a ser preferida no século XIX, sendo que antes era vermelho, simbolizando “sangue novo” a construção da família. Hijab (véu) quer dizer, em árabe, "o que separa duas coisas". O véu da noiva significa separar-se da vida de solteira para entrar em uma nova vida, a de esposa. Originalmente, pensava-se que ele era usado para esconder a noiva de possíveis sequestradores. Mais tarde, em outra versão, diziam que algo escondido tornava-se mais valioso. O véu é uma referência à deusa Vesta (da honestidade), que, na mitologia greco-romana, era a protetora do lar. O tapete vermelho é uma reverência ao novo casal, tem o significado de poder e sucesso, usado tanto pela nobreza, quanto pelas celebridades de Hollywood.
     Ela é o centro das atenções, sobre a tapeçaria, ela quase que fluta envolvida por uma nuvem branca, pisando sobre as rosas jogadas pela dama de honra. Ao termino da cerimônia, com o beijo, a chuva de arroz e o jogar do buquê, indicam que os noivos, ao entrarem no carro, ficará no ambiente a sensação de um final feliz, ao melhor estilo “felizes para sempre”. Em Cerimônia do Adeus de Rosângela Rennó, o sorriso dos noivos dentro carro (ou na moto), nos remetem as histórias de filmes e novelas, cujo casamento no final, nos dão a promessa de um final feliz. Em contrapartida, “Afinidades Eletivas”, também da mesma artista, é composto por fotografias de dois casais, que se cruzam formando oito casais entre si, mostrando várias possibilidades de conjugues, tendo como inspiração o romance homônimo de Goethe.
Cerimônia do Adeus, Rosângela Rennó, 1997/2003
     Não há exuberância apenas nas festas de casamento, nas comemorações infantis a decoração é um espetáculo à parte. Dos balões, são feitos árvores e arcos, em um degradê de cores. Personagens famosos são reproduzidos em MDF, isopor e EVA. Os cenários de heróis ou princesas, são feitos na escala do público infantil, para que estes, fantasiados de seus ídolos, completem a cena. O que antes fazia parte da ficção, agora invade o cenário real, espelhando-se em figuras que representam um ideal de final feliz, fazem parte de um mundo encantado, um herói imortal e uma princesa linda e delicada. Seria uma vontade das crianças de fazer parte deste outro mundo? Uma fuga do mundo real?
     A produção em série de docinhos, miniatura de animais, heróis, plantas e etc. Mostra a tendência reprodução em várias escalas. Os cenários criam cenas, e por estantes, aparentam ter sido congelados no tempo, mas só por poucos instantes, logo se dá conta de que o cenário é absolutamente superficial, estático e chamativo.



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